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10 dezembro 2021

Da importância da prática no processo de aprendizagem

 Na página 20 de um livro intitulado Hypnotherapy e publicado por um dos divulgadores "modernos" da hipnose, Dave Elman diz o seguinte:

"Failure to obtain the hypnotic state during the first attempts [made by a student] is often caused by a lack of confidence. The remedy: try again. As your studies continue and you are taught new methods, try every  new method you are taught. Don't form the bad habit of using one technique only. There are many from which to chose. As you go along, select those techniques that seem most natural to you and that obtain the state most rapidly and deeply for you. // Occasionally, a doctor will say at the second or even the third session: "No, Mr Elman, I haven't started practicing yet. I'm waiting to learn more about the subject." This is the phoniest excuse for laziness or timidity in the world, and your teacher knows it. You can only learn more about the subject by starting at the beginning. You can't start in the middle and go both ways. It's impossible."

Numa tradução live para português -- "O insucesso de um estudante de hipnose em alcançar um estado hipnótico nas primeiras tentativas é causado frequentemente por falta de auto confiança. A solução: tentar de novo. À medida que o estudo prossegue e novos métodos são ensinados, há que experimentar todos. Com o tempo, seleccionar as técnicas que são mais espontâneas e que consigam os resultados mais rápidos e mais profundos. // Por vezes, um médico irá dizer acerca da segunda ou terceira sessão: 'Não, senhor Elman, ainda não comecei a praticar. Estou à espera de aprender mais sobre o assunto.' Esta é uma das mais desculpas mais esfarrapadas do mundo para a preguiça ou a timidez, e o seu professor sabe disso. Apenas se pode aprender mais acerca de um assunto quando se começa do princípio. Não se pode começar a partir do meio do caminho e depois ir aprendendo para trás e para a frente. Isso é impossível."

Ao ler isto, pensei que se aplicava a mim. Durante muito tempo, faltou-me a confiança para praticar de forma natural o que fui aprendendo sobre várias terapias ao longo do tempo. No meu caso, mais que alguma timidez natural, faltava-me confiança na minha capacidade de obter bons resultados.

O tempo passou, e com ele já aconteceram muitas sessões de terapias divididas, curiosamente, por pessoas desconhecidas (como voluntário de Reiki) e pessoas conhecidas (familiares e amigos que procuravam ajuda pela Hipnose). No entanto, mesmo existindo a vontade para fazer mais e melhor, continuo a dar passos mais pequenos do que os possíveis, e isso causa-me alguma frustração: é que, depois de superadas as dúvidas sobre o que posso fazer de positivo a outras pessoas, fica uma sensação de que poderia estar a ajudar muitas mais pessoas agora do que o estou a fazer.

Neste momento, com um trabalho que me ocupa formalmente entre a meia-noite e as nove horas da manhã (que resulta de facto num trabalho entre as 23h00 e as 10h00), e tendo de reservar pelo menos 8 horas de sono algures durante o dia num espaço onde estou refugiado há 10 anos e em que o ruído é constante, dentro e fora de casa, sendo que trabalho, como, descanso, distraio, estudo e durmo sempre nos mesmos 10 a 12 metros quadrados de um rés-do-chão de casa antiga numa rua movimentada, é difícil encontrar forças para fazer mais do que comer, trabalhar e dormir. 

Por isso, acho que faltou a Dave Elman, que ensinava hipnose principalmente a médicos e a dentistas, referir uma coisa: para além da preguiça, ou da timidez, podem haver circunstâncias que dificultam a prática do que foi aprendido. A quem pense que não me deva sentir limitado porque tenho os recursos para me ajudar a mim mesmo, enquanto terapeuta, recordo um ditado antigo: "em casa de ferreiro, espeto de pau". No entanto, algo que posso fazer é reconhecer que as circunstâncias não são as adequadas mas há sempre possibilidade de aceitar que as limitações são parte de um desafio e não um obstáculo, de forma a que sejam ultrapassadas da forma certa no momento certo. 

Numa conversa em que Milton Erickson critica Dave Elman não apenas pela forma como ensinava como também por aquilo que ensinava, é possível perceber o que separa os métodos de ambos, e também chegar a uma conclusão: nunca existe apenas um caminho para alcançar um objectivo, temos apenas de aceitar que esse caminho existe e talvez aceitar que o caminho de cada um é pessoal, singular, único, sem ser exactamente igual ao de qualquer outra pessoa mas sim conforme ao que a nossa própria consciência nos dita.